Por vezes, são os momentos menos espectaculares ou até quase esquecidos, que se revelam decisivos numa guerra prolongada. Foi o caso da chamada “Batalha de Dois Portos”, episódio pouco conhecido da terceira invasão francesa.
No dia 9 de Outubro de 1810, o exército aliado chegava às Linhas de Torres, sempre seguido de perto pela cavalaria francesa, em distância à vista.
Alguns oficiais e soldados da guarnição das Linhas, a cavalo, aguardavam pelas diferentes unidades para as guiarem para as obras ou localidades que lhes eram destinadas.
Desde o dia 7 ou 8, conforme as fontes, chovia copiosamente, obrigando as tropas anglo-lusas, recém-chegadas, “a buscar arrebatadamente o abrigo das casas, que pela maior parte estavam abandonadas”, queixando-se o autor desta descrição, o padre torriense Madeira Torres, de “então se perderam, e” serem “preza dos soldados nacionaes, e alliados, os fructos não só pendentes, e mal começados a colher, como vinho e azeite,” bem como “os mesmos recolhidos nos celleiros publicos e particulares, que não eram guardados immediatamente por seus donos, e munidos de sentinellas, chegando o excesso a serem a maior parte das casas despejadas dos seus moveis, quasi todos os cartorios publicos, e particulares parcialmente roubados, o do Escrivão das Sizas, e de um da Correição totalmente destruídos”.